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O vírus chinês e a solidão (relato de experiência vivida)

Março 28, 2021

Não pretendo trazer conhecimento científico sobre este vírus chinês, até mesmo porque nem médicos e nem cientistas conseguem chegar a algum entendimento comum sobre isto. Pretendo, sim, trazer um pouco da minha experiência como paciente.

Tudo iniciou quando fui entubado por 10 dias, totalizando 21 dias de internação. No total, foram quase 60 dias desde o início desta história até estar parcialmente recuperado para poder voltar ao trabalho.

Entre tantos aspectos deste processo, existe um que gostaria de abordar aqui: a falta de controle sobre nossas vidas durante a internação. Mesmo doentes, enquanto estamos em casa, temos o controle sobre nossos atos – sabemos o que queremos e externamos isso –, mas quem é internado deve ficar em isolamento. E, nesse período, tornamo-nos “passageiros de nossas vidas”, pois não temos mais nenhum controle sobre o que nos acontece...

Nos dias antes de ser entubado, vivi uma espécie de letargia: podiam colocar uma refeição na minha frente, e eu não sentia vontade de pegar o garfo para comer (apesar da fome). Uma sensação estranha de desligamento. Você perde o controle sobre seu corpo e da sua vida. Sua vida, então, está nas mãos de outras pessoas, que vem lhe dar medicamentos, alimentar (às vezes contra sua vontade), levar ao banheiro... E essa letargia “derruba” mais ainda sua capacidade de discernimento, seu raciocínio. Assim, sua saúde e sua capacidade de controlar sua vida vão sendo “minadas”, de dentro para fora.

A pessoa com a Covid-19 perde suas energias gradativamente, sem se dar conta. Devido ao isolamento necessário, acaba por sofrer uma espécie de “pane”, que é agravada pela solidão. A falta de ter com quem conversar, a falta de caminhar em espaços abertos, a falta de ar, a falta de vida...

Por outro lado, o sofrimento dos familiares de quem está internado, ou entubado, é enorme, causado pela falta de informações – e, às vezes, essas informações são vagas. Dificilmente, os familiares têm uma noção exata do que acontece. E, aí, vem o sofrimento da família, a incapacidade de poder interferir, de controlar as coisas, tornando-se, também, “passageiros de uma jornada louca”, de aflição e de suspense, em que não tem certeza se o motorista sabe o que está fazendo.

A cada dia, esperam notícias de que essa “viagem” está acabando. A diferença é que o paciente é como o passageiro que dorme no ônibus, e os familiares são aqueles passageiros que ficam acordados, tentando entender o que o motorista está fazendo e rezando para que a viagem termine logo!

Com tudo isso, posso dizer que eu não tinha noção do sofrimento, mas, depois que saí do hospital, tive uma certeza: não quero que meus familiares passem por isso novamente!

O período após extubar (sim, esse é o termo que usam) já é outra história...

* texto de autoria de Marcelllus Fontenelle, engenheiro mecânico que reside em Xanxerê (SC)

Comentários  

0 #1 RITA DE CASSIA FONTE 17-05-2021 12:19
Primo, não sabíamos que esteve doente, graças a Deus saiu, e como está de saúde? Recuperou-se ou ficou com sequelas?
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